A nossa improbabilidade
Foi sem querer que te conheci. Contra todas as probabilidades os nossos caminhos cruzaram-se. Não era para acontecer nem estava planeado. Naquela noite, não era suposto estar ali e tu não contavas passar por lá. Que probabilidade tem a improbabilidade? Pelo menos uma. A nossa.
Tornaste-te amigo de uma amiga, foi assim, e chegaste até mim. Não gostei de ti à primeira vista. Bem sabes que vejo mal. Aos poucos, fui-te vendo. Observando. Estudando, porque “gato escaldado de água fria tem medo”. Mas tu não facilitaste. Não me falaste de nada de ti. Tu também, estavas-me a estudar.
Aos poucos, foste abrindo fissuras na couraça que protegia o meu coração. Foste limando com amor. Desgastando com carinho. Tornámo-nos bons amigos. Confidentes. Comecei a sentir a tua falta pouco depois de saíres. A tua ausência doía mais que uma incisão cirúrgica ou um ponto a sangue frio. A tua ausência enfraquecia-me. Desesperava por ti.
Abri-te o meu coração, contei-te todos os meus segredos e deite o poder para me arruinares. Estava à tua mercê. Despida da armadura que me protegia. Completamente vulnerável. Tinhas todo o poder, e tens, para dar cabo de mim.
Contra todas as probabilidades, tu fechaste feridas e fizeste-me voltar a acreditar. Cuidaste de mim, como quem cuida de um ser pequeno e fraco. Ajudaste-me a ultrapassar medos. Deste-me a força necessária para me reerguer e lutar. Juntos começámos a sonhar.
Sei que não sou, propriamente, fácil de aturar e que tenho algumas características bem lixadas, mas, ainda assim, tu amas-me. E sim, esqueço-me sempre das datas importantes, tipo a de hoje, e talvez vá continuar a esquecer. Mas há uma coisa que é impossível de apagar da minha memória.
Levantaste-me do chão quando eu caí. Ajudaste-me a sair do buraco quando eu não conseguia sozinha. Apoiaste-me em todas as decisões que tomei, mesmo as menos acertadas. Compreendeste todas as minhas ausências por motivos profissionais e de formação. Aturaste todas as minha rabugices e implicâncias parvas. Deste-me a mão e sonhamos juntos. Caminhamos lado a lado. Não somos perfeitos e nem podíamos porque isso era uma chatice. Oito anos e uma filha depois, só tenho uma coisa a dizer:
Obrigado, meu amor.