Um amor maior
Fizeste anos e mais uma vez não pude estar contigo. Mais uma vez, tudo se resumiu a um telefonema e uma videochamada. Desta vez nem um postal, nem uma carta e nem um presente foram enviados pelo correio. Todos os planos que tinha feito escorregaram por entre os dedos para cair no abismo da incerteza. E dói.
Sempre tivemos os atritos e mal-entendidos, por sermos tão iguais, mas existe amor; um amor maior. Um amor que nem a distância, nem o tempo e muito menos um sacana de um vírus pode mudar. Um amor que não precisa de palavras para ser descrito. Um amor em que basta um olhar cúmplice para compreender o que as palavras são incapazes de traduzir. Um amor de pai e filha. E dói.
Não estivemos sempre assim tão próximos. Houve épocas em que a distância era maior do que esta que nos separa hoje. Houve ocasiões que não compreendi. Peço desculpa, as mais sinceras desculpas, por não ter compreendido que te sacrificavas para me dar tudo o que não tiveste. Peço desculpa por não entender que só lutavas para que a tua família tivesse sempre o melhor. Foram muitas as lutas que travaste, e que ainda travas, mas conseguiste. Cumpriste a tua missão na perfeição e nada nos faltou; nem o amor. O amor sempre esteve lá em tudo o que fazias. E dói.
Cresci e aprendi a ter a tua persistência e força. Aprendi contigo que a vida pode ser colorida, mas também ter pretos e brancos. Aprendi que o mais importante é valorizar o que temos e continuar a lutar pelos sonhos. Aprendi que amar é cuidar, proteger e lutar. E dói.
Dói estar neste impasse em que se vive. Dói não saber quando nos podemos voltar a abraçar. Dói e pronto.
A incerteza é a lâmina afiada que trespassa o coração. A angustia marca o ritmo em que se vive como um metrónomo. Asfixio na força que preciso de ter. Sufoco nas lágrimas que não consigo chorar. O medo vai corroendo como um ácido. Dói.
Dizes-me que vai ficar tudo bem e eu acredito. Afinal és o meu super-herói. Vemo-nos muito em breve.
Amo-te muito Pai.