Não é preciso nada
Na verdade nem é preciso nada. Temos tudo. Andamos tão distraidos com o que julgamos ser tudo. Não vemos que não é preciso nada.
Tudo o que precisava era de um momento de sossego. Sempre o tive ali à mão e nem percebi. A porta secreta para a fuga do quotidiano, ali mesmo, à frente dos meus olhos míopes.
Julgo ser verdadeira a realidade desfocada. Procuro incessantemente tudo, mas não preciso de nada. Está mesmo aqui ao lado.
Deito-me, sobre a manta, à beira do rio Sever. Fecho os olhos. O som do rio a bailar sobre as pedras. O vento a passar por entre as folhas. O chilrear dos pássaros. Paz.
Tenho tudo. A mente liberta-se do nada e dá espaço ao tudo. O plano de fuga está traçado. Tudo aqui vou eu.
Vejo um pássaro a esconder-se por entre a vegetação da beira do rio. Tem tudo.
Observo á minha volta. Sigo o plano. Sou livre do nada e abraço o tudo.
Elevo-me ao mesmo patamar para disfrutar de tudo. Deixo-me deslumbrar. A curiosidade acorda do seu sono profundo. Vejo o mundo como se fosse a primeira vez.
Somos livres. Temos tudo. Estamos aqui e agora. Nada mais existe. Nada mais importa.
Esta é a única oportunidade que temos para viver hoje. Quero viver. Quero vivê-la em conjuto com eles. A vida é melhor quando temos tudo e não precisamos de nada.
Podemos voltar ao mesmo lugar, mas nunca será igual. Não teremos a mesma idade. Não seremos as mesmas pessoas. Continuaremos a ter tudo e a não precisar de mais nada.