Feira
Ah! A vida. O que é a vida senão uma volta no canguru da feira? Se anda devagar, aborrece. Se anda depressa, incomoda.
Andamos às voltas e às voltas. E a vida não é nada mais do que a sucessão de voltas. Uns dias bem. Uns dias pior. Uns dias felizes. Uns dias tristes.
Mais uma voltinha, mais uma corrida. E corremos. Ai, se corremos. Vivemos na ansiedade do amanhã e no pesar do ontem. Corremos mais uma vez; às voltas.
O tempo passa. A idade avança. Não se pode desperdiçar mais tempo. É urgente viver tudo hoje. Já. O tempo atraiçoa e escapa-se. A frustração aumenta e a obsessão por viver aumenta.
Quem nunca desejou uma vida cheia de aventura? Sentir a adrenalina a correr nas veias. O coração a escoicinhar o peito como um Mustang selvagem. A afluência do sangue aos órgãos vitais. Os zumbidos e as tonturas. Não, menos um bocadinho.
Ah! Nada melhor para nos fazer sentir vivos. Perseguimos todas as experiências e novidades. Quanto mais e mais rápido melhor.
Passou e não volta. Foi e já não é mais. Podia-se e agora não há volta a dar. Só mais uma volta, enquanto se anda à volta com a vida.
Um dia estamos no topo do mundo. No outro descemos ao mais profundo abismo.
Andamos no mesmo carrocel vezes e vezes sem conta. Viciados na mesmice do que não preenche. Dependentes de aventuras vazias e momentâneas.
Afoitos por experimentar o mesmo e acovardados por ousar mudar. Andamos no mesmo carrocel porque é confortável. Já o conhecemos. Tem bancos fofinhos e macios. Corremos perigo. Vulneráveis à escravidão do viver no carrocel.
Lá fora a feira acontece. Há tanto para ver. Tanto para sentir. Tanto para descobrir. Tanto para nos descobrir. Apreciar a feira segundo o caminho traçado por nós. Ousadia. Loucura. Privilégio.
O canguru continua a girar e saltitar. A feira continua a decorrer. A idade continua a avançar.
E acaba. Tudo acaba e o que foi que se aproveitou?
(Imagem retirada do Google)