Nasci Maria
Que estranho mundo este em que a imagem vale mais que mil competências. Um mundo onde uma embalagem tem mais importância que o conteúdo. Onde a inteligência é medida pelo perímetro abdominal. Onde o profissionalismo é avaliado pela forma de um corpo.
Juro que pensei que, ao longo destes anos, a mentalidade tinha evoluído. Mas, como estava enganada. A mulher contínua a ser julgada e avaliada, pelo que veste e pela forma que o seu corpo tem. Pouco importa a capacidade, inteligência, profissionalismo, dedicação, adaptabilidade, resiliência, persistência ou qualquer outro atributo. No final, só tem relevo as medidas certas e o tipo de vestimenta.
Não há lugar para mulheres com corpos com as marcas: das vidas que geraram, das doenças que enfrentaram, dos descontrole hormonais ou das formas que herdaram. Não é considerado bonito. Não é considerado atraente.
Os tempos mudaram, mas perdura a forma como se veem as mulheres: um adorno. Um objeto que se quer agradável à vista. Um corpo que se possa exibir. Algo que se possa apreciar. Desejar.
Será apenas essa a importância da mulher na sociedade que se diz evoluída? Serão as mulheres menos vistosas, seja lá isso o que for, menos capazes que as outras? Menos competentes? Menos criativas? Menos mulheres?
A esses iluminados, que se acham no direito de criticar ou inferiorizar alguém pela a aparência, convido-os a olharem-se ao espelho. Olhem-se bem e sigam a mesma grelha de avaliação que usam para os outros. Sejam sinceros e digam se são o pináculo da perfeição.
Basta de bodyshaming. Basta de comentários depreciativos sobre o corpo e a forma de vestir. Parem com os conselhos infelizes e inapropriados. Quem julgam que são? Que direito têm em opinar sobre o corpo de alguém?
Sabem lá quantas mulheres sofrem em silêncio por não encaixarem nos padrões? Sabem lá quantas mulheres se sujeitam a dietas e exercícios malucos só para serem aceites? Sabem lá o sofrimento que causam só por tecerem reparos “inocentes” e “bem- intencionados”.
Sempre ouvi dizer que “de boas intenções está o inferno cheio” e se “os conselhos fossem bons não se davam, vendiam-se”.
As mulheres não são peças de decoração. As mulheres não são objetos para serem exibidos. As mulheres não são só embalagens. Quem não sabe apreciar uma mulher em toda a sua plenitude e pelo que é tem um problema. E não, não estou a falar do ponto de vista de orientação sexual porque se for só desta forma, então o problema ainda é maior.
Elas têm estrias, curvas grandes, cicatrizes, manchas, tamanhos diferentes e, ainda assim, são perfeitas. As mulheres são competentes e capazes o suficiente para serem o que quiserem. Elas são como a malagueta. Dão uma flor delicada, mas o seu fruto não é para qualquer um.